A frequência das causas de infertilidade tem distribuição praticamente semelhante nos casais. O fator masculino é responsável por aproximadamente 30% das vezes, assim como o mesmo percentual se aplica por razões femininas, igualmente por motivação mista. Já os 10% dos casos restantes de infertilidade é sem causa aparente.
Fatores masculinos
A infertilidade conjugal tem o homem como fator causal isolado ou associado às causas femininas (mistas) em mais da metade das vezes (aproximadamente 60%). Basicamente, as causas estão relacionadas a:
Alterações na produção de espermatozoides: desde ausência de produção (azoospermia), baixa contagem (oligozoospermia), pouca mobilidade (astenozoospermia) ou formato inadequado (teratozoospermia). Todas estas condições são geralmente assintomáticas, sendo muitas vezes diagnosticadas apenas por exames especializados.
Alterações obstrutivas: modificações anatômicas por defeitos genéticos, inflamações, infecções ou cirurgias do sistema reprodutor masculino podem bloquear parcial ou totalmente a passagem dos espermatozoides e ou líquidos seminal.
Alterações hormonais: situações não muito comuns onde os hormônios que agem diretamente sobre os testículos (hormônios luteizante LH, hormônio folículo estimulante FSH) ou a testosterona e a prolactina estão alterados, prejudicando tato a produção quanto à qualidade dos espermatozoides.
Varicocele: varizes na região escrotal que alteram a produção espermática, podendo levar também a uma diminuição do volume testicular. Tem efeito progressivo, isto é, quanto mais tempo de ação deletéria sobre os testículos, maior a ação tóxica e a repercussão na qualidade seminal. É a principal causa conhecida de alteração da espermatogênese, sendo sua correção feita através de tratamento cirúrgico.
Alterações genéticas: quanto maior a alteração seminal, maior a probabilidade de haver alteração genética. Entre elas encontramos homens com cariótipo alterado, microdeleções do cromossomo Y e a presença de gene mutante da fibrose cística.
Outros fatores: disfunções sexuais como os problemas de ereção, tratamento de rádio ou quimioterapia, traumatismos medulares, doenças como diabetes, algumas neuropatias (doenças neurológicas) e também a criptorquidia (ausência dos testículos na bolsa testicular) podem ser causas de infertilidade no homem.
Fatores femininos
Embora a mulher seja considerada a maior responsável pela fecundidade do casal, as causas femininas têm a mesma frequência do que as masculinas. No entanto, pela complexidade do organismo feminino e pela responsabilidade direta da concepção, gestação e parto, a pesquisa das causas femininas tem um papel muito importante. As principais são:
Ovarianas: referentes às disfunções e condições patológicas que afetam a produção, desenvolvimento, amadurecimento e expulsão do óvulo, assim como alterações na produção dos hormônios femininos. Importante sabermos que a quantidade de óvulos que a mulher possui é determinada antes de seu nascimento, e ocorre uma perda progressiva e inevitável desses óvulos ao longo da vida, até o momento em que esta perda é total e definitiva: a menopausa. A própria idade (principalmente acima dos 35 anos), fatores genéticos, ambientais e determinados hábitos (como tabagismo) podem acelerar esta perda do patrimônio ovariano.
Tubários: referentes às alterações no transporte e capacitação dos espermatozoides, na captação e transporte do óvulo, no ambiente da fecundação e no transporte do pré-embrião até o útero. Também engloba o chamado fator peritonial, onde alterações na membrana que recobre as tubas promovem um processo de aderência prejudicial à captação do óvulo.
Uterinos: referente às alterações na anatomia do útero que levam a um prejuízo do transporte e capacitação do espermatozoide, sua receptividade ao pré-embrião e sua capacidade de adaptar-se à gestação.
Cervicais: referente às alterações no muco e sua função de transporte, capacitação e seleção dos espermatozoides, alterações na capacidade de contenção e proteção do saco gestacional na cavidade uterina.
Imunológicas: referente às condições de reconhecimento, adaptação e proteção dos gametas. Fecundação, implantação e desenvolvimento do embrião.
Endometriose: doença de risco extremo à fertilidade feminina, que envolve múltiplos fatores em seu mecanismo promotor da infertilidade: desde alterações anatômicas e funcionais do útero, tubas e ovários, até condições desfavoráveis à fecundação e implantação relacionadas a fatores imunológicos.
Infertilidade sem causa aparente (ISCA)
Cerca de 10% dos casais não apresentam causa aparente de infertilidade, mesmo após serem submetidos a rigorosos exames investigativos. Assim, não considera a infertilidade sem causa aparente como relacionada ao indivíduo, mas ao casal como unidade reprodutora. Muitas vezes, apenas quando submetidos às técnicas de reprodução assistida, podemos diagnosticar nestes casais fatores relacionados aos gametas que até então eram obscuros nos exames rotineiros.
Envolvimento do casal
O diagnóstico de infertilidade normalmente parece causar impacto negativo ao bem-estar do casal, interferindo no relacionamento conjugal. A presença da infertilidade implica na interrupção do projeto de vida dos casais produzindo uma crise que afeta as relações familiares e sociais e algumas vezes o desempenho profissional. Frequentemente, diante de um resultado negativo, desencadeiam-se sentimentos de angústia e frustração, perda de controle emocional, isolamento social familiar. A infertilidade é uma experiência que origina tristeza profunda, ansiedade, sentimentos de pena e culpa. A busca de diagnóstico e tratamento com técnicas de reprodução humana assistida, traduz um movimento adaptativo no sentido de encontrar a possível resolução.