Todos os dias, a consultora de marcas Karina Steiger agradece a uma mulher que não conhece, mas que lhe permitiu ser mãe. Aos 43 anos, depois de tentativas e tratamentos, ela espera Enrico, gerado por meio da fertilização in vitro, com óvulo doado anonimamente em uma clínica de referência na Espanha.
A seguir, Karina conta como foi a experiência de se submeter a uma técnica ainda pouco conhecida, a ovodoação, que permitiu a ela e ao marido, Pedro Corbetta, conceber o tão sonhado filho. E diz por que faz questão de compartilhar sua história: primeiro com o projeto Casulo com Amor, por meio do qual contou com o financiamento coletivo que mobilizou 180 pessoas, a maioria mães.
Agora, ela conta sua trajetória em Donna e, em breve, em reportagem especial no Fantástico.
O desejo da maternidade bateu à minha porta tardiamente, após os 40 anos, quando a vontade de ser mãe e o relógio biológico nem sempre andam em sintonia. Após uma investigação completa, descobri uma obstrução nas trompas. Foram três anos de tentativas por meio da reprodução assistida. Meu marido enfrentou comigo cada fase do tratamento: dezenas de exames, testes, injeções na barriga… Começamos com o coito programado. Depois, veio a primeira fertilização in vitro, sem sucesso. Então, a segunda, também sem o esperado “positivo”.
Foi então, quando já tinha 43 anos, que meu médico sugeriu a ovodoação. Fomos pesquisar do que se tratava essa alternativa, que muita gente desconhece e ainda é meio tabu. E entendi que minha chance de gerar um filho era por meio de um óvulo jovem e saudável de uma doadora anônima. Decidimos juntos que esse seria o nosso caminho e que falaríamos disso abertamente. Respeito quem faz ovodoação e não fala. E a maioria não fala. Mas quis levantar essa bandeira para desmitificar esse assunto porque é uma bela oportunidade de uma mulher em situação como a minha se tornar mãe.
Quando se toma uma decisão como essa, é porque algo muito maior está dentro da gente, no caso o amor, a capacidade de me doar e de conhecer esse amor incondicional. Começamos, então, a preparação para o tratamento que se daria na IVI, centro de referência com o maior banco de doadoras de óvulos do mundo, localizada em Valência, na Espanha. E minha cabeça já estava a mil com a possibilidade de engravidar.
Nesse momento, qualquer dificuldade ou questão, como o bebê herdar ou não a cor dos meus olhos e o meu cabelo, tornam-se coisas menores. Antes de embarcar, a gente responde a um questionário para garantir que a doadora tenha as mesmas características físicas e o mesmo sangue da receptora. Então, provavelmente o Enrico vai ter as mesmas características minhas. Mas a vontade de ser mãe é maior do que tudo isso.
A ovodoação é para quem realmente tem certeza de que quer ter um filho e não mede esforços para isso. Em nome desse amor todo que a gente tem, abre mão da própria genética. Claro que é um processo que demora um pouco, para alguns mais do que para outros. No meu caso e do Pedro, esse tempo foi mais para se familiarizar com um assunto que a gente não conhecia.
Fazemos um acompanhamento com psicóloga e, desde cedo, ela disse que eu estava preparada para receber este óvulo. O Pedro demorou alguns meses para tomar a decisão. Mas, quando percebeu que as minhas chances iam de 15% com meus óvulos para 70% com uma ovodoação, e que seriam óvulos saudáveis, de uma jovem, analisados em mais de 400 doenças… Tudo isso deu uma segurança muito grande para nós. Meus óvulos, com a minha idade, provavelmente viriam cromossomicamente com defeitos, e a chance de ter um filho com uma doença séria seria muito grande.
Então, vimos que a possibilidade da ovodoação era real e mais segura. E que teríamos uma enorme chance de sucesso. É mais fácil desistir no meio do processo, que é silencioso e demorado, muitas “tentantes” param no meio do caminho. Optar pela ovodoação é a última cartada.
Quando chegou a hora, depois de fazer exames e tomar os medicamentos prescritos, fomos para a Espanha, a melhor viagem das nossas vidas. Na clínica espanhola, faríamos os últimos exames, a coleta de sêmen do meu marido, a fertilização in vitro com o óvulo da doadora e a implantação do embrião no meu útero. Nas tentativas anteriores que fiz, sempre havia ficado muito presa à nossa rotina, ao nosso calendário. Era uma pressão muito grande: ficava olhando os dias que faltam para ver se a menstruação viria ou não, indo a toda hora ao banheiro para olhar a calcinha e ver se havia ou não uma gotinha de sangue (que pode ser um indício de nidação, momento de implantação do embrião no útero). Parecia que o tempo não passava, a ansiedade era muito grande.
Mas, enquanto estava na Espanha, teve todo o processo de chegar a um país que eu não conhecia, em um lugar bonito como Valência. Então, ao mesmo tempo em que a gente ia para a clínica fazer os exames, a coleta de sêmen, também passeava pela cidade. Acho que entrei em todas as igrejas de lá! Depois, que o embrião foi para laboratório para ficar se desenvolvendo até a hora de ser implantado no útero, a gente não tinha o que fazer a não ser descobrir a cidade. E não ficar o tempo todo pensando no assunto fez toda a diferença para mim. Foi praticamente uma lua de mel.
Chegamos da Espanha em um sábado, e, na segunda-feira, fiz o teste de gravidez. Então, meu médico me ligou e perguntou: “Já colocou espumante na geladeira? Tu estás gravidíssima!”. Nem consegui mais falar com ele, acho que desliguei o telefone na cara do médico (risos). Não fazia outra coisa além de chorar, gritar e abraçar meu marido. Foi um dia muito feliz: eu esperava por aquilo havia mais de três anos.
Não conheço essa doadora – a doação é anônima. Mas todos os dias faço uma oração de agradecimento a ela. Graças a essa doadora posso gerar meu filho. É minha placenta, é o meu sangue que está dentro dele. Este bebê está dentro de mim. Ele vem dessa mãe biológica e do meu marido. Mas um terço dele vem de mim.
Percorremos esse caminho longo, repleto de dúvidas, expectativas, frustrações e anseios, mas que nos tornou mais fortes. E agora, em outubro, nasce Enrico, nosso filho.